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Falta de interesse: Merval Pereira colunista do jornal OGLOBO

Publicado: Segunda, 27 de Fevereiro de 2012, 10h52 | Última atualização em Quarta, 23 de Setembro de 2015, 21h25 | Acessos: 872

Antes de um Gosplan de educação profissional - política de economia planejada da antiga União Soviética -, é preciso ouvir a demanda do trabalho e do capital. É assim que o economista Marcelo Neri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas no Rio define os resultados de uma pesquisa baseada no processamento e análise do suplemento especial da PNAD feita para o Senai, sobre as razões da falta de demanda por cursos profissionalizantes.



Ao mesmo tempo em que a pesquisa revela a busca crescente pelos cursos profissionalizantes na Classe C emergente, mostra também números impressionantes: nada menos que 83% das razões apresentadas pelos pesquisados sem educação profissional se referem à falta de demanda, e não de oferta.



Isto é, os cursos oferecidos não encontram correspondência nem no mercado nem no interesse dos alunos, e uma coisa tem a ver com a outra.



Em particular, 69% daqueles sem educação profissional apontam falta de interesse nos cursos oferecidos, e não falta de cursos.


A falta de interesse das empresas em contratar, por sua vez, explica 31% da não recolocação no mercado dos egressos destes cursos.


Segundo o economista Marcelo Neri, a falta de interesse reflete a inadequação dos cursos às necessidades das pessoas.



No caso da educação profissional, o que preocupa, aponta Neri, é que a falta de interesse também é a principal razão (40,7% do total) para a população de 15 a 17 anos que deveria estar no ensino médio regular não frequentá-lo.



A inadequação dos cursos técnicos reflete as especificidades do mercado de trabalho, como o oferecimento de um curso de datilografia quando as pessoas querem um de informática, exemplifica Marcelo Neri.



Esse seria o lado Gosplan de não se olhar para o que as pessoas, que formam o mercado de trabalho, querem.



Outro ponto importante para o economista é que falta informação da população em geral sobre os impactos do curso. Por exemplo, o técnico médio alavanca o salário em 14% para cima do que se obtém com o médio regular.



Neri diz que uma linha de investigação que não vem sendo explorada devido à falta de dados é composta de perguntas diretas aos jovens sem educação profissional sobre a falta de motivações: seria a falta de interesse, necessidade imediata de geração de renda, ou seriam baixos retornos prospectivos percebidos por eles?



Essas questões encontram respostas a partir do depoimento daqueles sem curso profissionalizante. A falta de demanda da população, que é a razão majoritária para não fazer cursos profissionalizantes, se divide por sua vez em dois tipos básicos: falta de interesse intrínseco (68,8%) e falta de condições financeiras (14,17%), que a princípio é um motivo de demanda, mas, como ressalta Marcelo Neri, poderia ser enfrentado com a oferta de bolsas de estudo profissionalizantes, como nas tentativas de atrelá-las ao programa Bolsa Família, na criação de um Pro UNI do ensino técnico, ou em outras iniciativas de governos estaduais na área.



Os demais motivos alegados ou são residuais (6,57%) e a falta de oferta (10,47%). As motivações de oferta, por sua vez, se dividem em falta de escola na região (8,64%), falta de curso desejado na escola existente (1,4%), falta de vagas nos cursos existentes (0,43%).



A demanda pregressa por educação profissional está positivamente correlacionada com a escolaridade das pessoas, passando de 3% para os sem escolaridade regular chegando a 23,5% aos 8 anos completos de estudo, fase de entrada no ensino médio, quando cresce ainda mais aceleradamente, atingindo o ápice nos 10 a 12 anos completos de estudo regular, ocorrendo aqui um planalto em torno dos 45%.



Este é o ponto quando ocorre a passagem do ensino médio para o ensino superior. A partir dos 12 anos de estudo a demanda começa a cair chegando aos 31,1% nos 16 anos de estudo, estabilizando a partir deste ponto.



Marcelo Neri analisa que gestores e pesquisadores têm o hábito de basear decisões e sugestões de política pública seguindo perspectiva de oferta, e não de demanda.



“Frequentemente nos esquecemos que o derradeiro teste da política pública se dá na sua aceitação, ou não, pela respectiva clientela final”, lamenta.



Por exemplo, quando perguntamos aos pequenos empresários qual a natureza da maior dificuldade percebida do negócio, se é deficiência de tecnologias, infraestrutura, formalização, crédito, mão de obra qualificada entre outras, a resposta mais frequente é nenhuma das alternativas, mas “falta de clientes ou excesso de concorrência no mercado”.



Os dados do CPS da FGV mostram que proporção semelhante é encontrada em pesquisas que perguntam ao jovem de 15 a 17 anos por que não está na escola regular: 67% das respostas abrangem elementos de demanda como falta de interesse ou renda.



Antes de partir para um grande Gosplan de educação profissional é preciso ouvir a demanda do trabalho e do capital, adverte Marcelo Neri.



Não basta ter no papel um bom plano de educação profissional que atenda as prioridades produtivas vislumbradas para a nação, mas ele tem que antes, e acima de tudo, atender as aspirações dos trabalhadores e das empresas.



O estudo da Fundação Getulio Vargas do Rio mostra que a análise da demanda por educação profissional é muito mais complexa que a da educação regular.



O menu profissionalizante inclui cursos de qualificação profissional, técnico de ensino médio e graduação tecnológica numa miríade de temas indo da informática a saúde passando por cursos de estética e de gestão, entre outros.



Nesta selva de cursos de diferentes níveis e temas ofertados por diferentes atores é fácil se perder no caminho, adverte o trabalho da FGV.



Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/blogdomerval/posts/2012/02/25/falta-de-interesse-433353.asp



Mais informações: http://portal.fgv.br/



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