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Lugar de pessoas trans é no ensino superior

Publicado: Segunda, 29 de Janeiro de 2024, 16h30 | Última atualização em Segunda, 29 de Janeiro de 2024, 17h28 | Acessos: 996

Vinte e nove de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Em homenagem a esta data, conheça um pouco da história de Danielle Nunes, 36 anos, aluna do mestrado em Relações Étnico-Raciais do Cefet/RJ (PPRER). Dani, como prefere ser chamada, desafia as estatísticas que apontam que ela deveria estar em outro lugar, bem longe das salas de aula de um curso de pós-graduação. A estudante espera que o seu exemplo ajude a normalizar a presença de corpos trans na academia.

“Eu sou uma mulher trans negra caiçara, moradora da Zona Oeste do Rio de Janeiro.” É dessa forma, com orgulho de sua origem e trajetória, que Danielle se define. Desde criança, a estudante conta ter sofrido as violências impostas a quem foge dos padrões tradicionais da sociedade e somente na fase adulta se reconheceu como uma mulher transexual. “Não sabia quem eu era. Eu não me via como menino, e me diziam que eu não podia ser menina. Aos 21 anos, fui apresentada à transexualidade e me encaixei não só em uma nomenclatura, mas também me deparei com o dissabor da liberdade”, revela Dani, ao relembrar as dificuldades de se tornar uma mulher trans em uma sociedade transfóbica.

Conforme pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), de 2022, cerca de 70% das pessoas trans e travestis não concluíram o ensino médio e apenas 0,02% dessa população teve acesso ao ensino superior no país. Dani conta que se sente privilegiada pois, ao contrário de muitos jovens que vivem situações semelhantes à dela, não foi expulsa de casa pela sua mãe e teve a oportunidade de estudar em escolas particulares na educação básica. Entretanto, não esperava chegar tão longe. “Nunca me imaginei neste lugar de mestranda. A minha geração trans não sonhava com possibilidades. É injusto dizer que estou lá por elas, pois sei que muitas não terão esta oportunidade. Então, penso e milito para que a nova geração possa usufruir desta abertura de caminhos”, explica.

Ingressante da turma de 2023 do mestrado em Relações Étnico-Raciais, Danielle pesquisa a inclusão de mulheres trans no esporte. Ela acredita que o seu estudo pode beneficiar todas as pessoas trans, mas especialmente as mulheres negras, que lideram as estatísticas de violência. Em 2022, uma pesquisa da Antra identificou que o Brasil foi o país recordista em mortes de pessoas trans e travestis pelo 14º ano consecutivo. Grande parte das vítimas, 76%, são pessoas negras. De acordo com o estudo, a maioria delas atua na prostituição para garantir uma fonte de renda e a sobrevivência.

“Eu sempre achei que o esporte é um caminho para os nossos corpos saírem da prostituição e se profissionalizarem. Nas minhas pesquisas, eu descubro que sempre existimos, mas os colonizadores nos retiraram dos livros de história para nos jogar nas manchetes de violência policial. No próprio Cefet/RJ, todos os dias, eu busco desconstruir pensamentos e despir o senso comum que colegas e professores ainda possuem, pois a transfobia é estrutural e está em todos nós. Para desenvolvermos empatia, é preciso viver a bolha do outro”, finaliza a estudante.

 

É lei: uso do nome social é direito conquistado

Em abril de 2016, um decreto do governo federal determinou o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis ou transexuais e o uso do nome social no âmbito da administração pública federal, com objetivo de reduzir constrangimentos, combater a discriminação e fortalecer a cidadania. Além disso, em janeiro de 2018, o Ministério da Educação (MEC) publicou uma resolução que autoriza travestis e transexuais utilizarem o nome social nos registros escolares da educação básica. Essas e outras medidas posteriores garantem às pessoas transexuais um direito fundamental, de serem identificadas pelo nome com o qual se reconhecem, em ambientes públicos e privados.

O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) oferece canais de atendimento, como o Disque 100, para facilitar o registro da denúncia de LGBTfobia e outras violações aos direitos humanos. O serviço está disponível a todas as pessoas e funciona 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem direta e gratuita, de qualquer telefone fixo ou móvel. Clique para saber mais.

 

Cefet/RJ Plural

Entre as iniciativas da instituição voltadas à promoção e divulgação dos direitos da população LGBTQIA+, o Cefet/RJ aprovou em 2023 o projeto de extensão Cefet + Direitos Humanos, coordenado pelos docentes Andrezza Menezes e Felipe Felix. No mês de junho, a iniciativa promoveu a palestra “O papel do Estado brasileiro na promoção dos direitos das pessoas LGBTQIA+”, que teve como convidados os ativistas Cláudio Nascimento, Monica Benício e Sara York, e abordou, entre outros temas, a violência e a invisibilidade sofridas pela população trans no país. Com grande público, o evento lotou as dependências do Auditório 5 da Unidade Maracanã.

Em outra atividade, o projeto celebrou o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado em 28 de junho. O evento promoveu uma roda de conversa com Adriana Motta e Monica Nascimento, da ONG Mães da Resistência.  O coletivo foi criado para apoiar mães de filhas/os/es LGBTQIA+, além de realizar atividades educativas nas instituições de ensino. Durante a ação, as convidadas compartilharam a experiência de acolhimento de seus filhos e ouviram relatos de estudantes do Cefet/RJ sobre o processo de aceitação da sexualidade por suas famílias.

 

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